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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Chico Carneiro promove em filme a história de um dos sobreviventes de Mbuzini



Documentário de Chico Carneiro e Catarina Simão retrata a vida de Carlos Jambo com referência a algumas fotografias marcantes do antigo fotógrafo-guerrilheiro.

O auditório do Centro Cultural Franco-Moçambicano, na cidade de Maputo, foi o local escolhido para a exibição do documentário de Chico Carneiro e Catarina Simão. A sessão promocional do filme realizou-se a dias e contou com uma conversa entre aquele realizador brasileiro, a viver no país lá vão mais de 35 anos, e os espectadores, que, publicamente, reconheceram terem-se identificado com o conceito e história do filme.

O documentário tem como protagonista Carlos Jambo, antigo fotógrafo guerrilheiro que, ainda jovem, foi para Tanzânia, onde teve a formação político-militar, com a intenção de fazer a luta armada de libertação nacional. Na Tanzânia, Jambo tornou-se fotógrafo e, nessa condição, documentou parte da luta armada de libertação nacional nas zonas libertadas: Cabo Delgado, Niassa e Tete. Mais tarde, o fotógrafo-guerrilheiro aprendeu a fazer vídeo, passando a ser operador de câmara de Samora Machel até à queda do avião Tupolov 134, em Mbuzini, África do Sul, onde o primeiro presidente moçambicano morreu em 1986. Jambo foi um dos sobreviventes desse acidente.

Com este filme, que recupera espaços simbólicos como Mueda, personagens e factos históricos como o Acordo de Nkomati, Chico Carneiro pretende contribuir para a preservação da memória colectiva dos moçambicanos. E o cineasta acrescenta: “Mais do que preencher uma lacuna, ao nível da memória, penso que o filme dá-nos a possibilidade de discutir as diversas versões da história de Moçambique. Em geral, a história é feita pela versão do vencedor, mas há que considerar várias versões que também complementam a história, versões que precisam ser vistas, revistas e conferidas. O filme tem uma forte contribuição para dar nesse aspecto”.

Chico Carneiro, depois da exibição do filme, já em conversa com os espectadores no Franco-Moçambicano, chamou atenção para o facto de a história de Moçambique, em grande parte oral, estar a perder-se à medida que as pessoas que combateram o regime colonial português estão a morrer. Ora, mesmo a história registada, garante Carneiro, também está a perder-se. Nisso o cineasta referiu-se ao estado de deterioração do material em vídeo arquivado na e pela televisão pública. O mesmo acontece com o material que contém imagens únicas sobre Samora Machel, conservado, quer dizer, armazenado no Arquivo Histórico de Moçambique. O material em causa, por não se ter dado a devida atenção, segundo Carneiro, está perdido porque, actualmente, já nem se encontram máquinas capazes de reconhecer os formatos ultrapassados usados durante a filmagem. E Carneiro ainda deixou um reparo sobre filmes que não são produzidos no país. “Por exemplo, não conheço nenhum filme feito sobre a história do destacamento feminino e sobre a importância do contributo das mulheres na consolidação da luta armada de libertação de Moçambique”.

A produção de Djambo foi orçada em 50 mil euros, cerca de 3 600 000 meticais, e insere-se num programa da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), que, pelo terceiro ano, lançou um financiamento para produção de documentários, o que, inclusive, permite o filme Djambo ser exibido em nove países.

O projecto de Chico Carneiro e Catarina Simão começou a ser produzido em 2016, tendo sido filmado em três semanas, com muitas viagens feitas de carro pelo país, mesmo com essa intenção de reconstruir momentos da vida de um homem que em si é parte da história de Moçambique.

Fonte: O País

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